Este blog foi produzido com as constribuições dos alunos das turmas de 3ª serie do prof Aurelio Fernandes.

Etienne de La Boétie (Discurso da Servidão Voluntária)

“Pobre gente miserável, povos insensatos, nações obstinadas em vosso mal e cegas ao vosso bem, deixai roubar, sob vossos próprios olhos, o mais belo e o mais claro de vossa renda, pilhar vossos campos, devastar vossas casas e despojá-las dos velhos móveis de vossos ancestrais! E todo esse estrago, esses infortúnios, essa ruína enfim, vos advém não dos inimigos mas sim, por certo, do inimigo, e daquele mesmo que fizestes como ele é, por quem ides tão corajosamente à guerra e para a vaidade de quem vossas pessoas nela enfrentam a morte a cada instante. Esse senhor porém, só tem dois olhos, duas mãos, um corpo e nada além do que tem o último habitante do número infinito de nossas cidades. O que tem a mais do que vós são os meios que lhe forneceis para destruir-vos. De onde tira os inumeráveis olhos que vos espiam, senão de vossas fileiras? Como tem tantas mãos para golpear-vos, se ele não as empresta de vós? Os pés com que espezinha vossas cidades também não são vossos? Tem ele poder sobre vós senão por vós mesmos? Como ousaria atacar-vos se não estivesse conivente convosco? Que mal poderia fazer-vos se não fosseis reptadores do ladrão que vos pilha, cúmplices do assassino que vos mata, e traidores de vós mesmos? Semeais vossos campos para que ele os devaste; mobiliais e encheis vossas casas para alimentar suas ladroeiras; educais vossas filhas para que ele possa saciar sua luxúria; alimentais vossos filhos para que faça deles soldados, para que conduza-os à carnificina, torne-os ministros de suas cobiças, executores de suas vinganças. Consumi-vos no sofrimento para que ele possa mimar-se em suas delícias e chafurdar nos prazeres sujos.”