A Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
1. Significado
Foi o maior confronto militar da história: a segunda e mais violenta fase da “Nova Guerra dos Trinta Anos” (1914-1945)
Combinou duas guerras originalmente distintas:
■A Guerra do Pacífico (1937-1945). Inicialmente uma guerra do Japão contra a China (Guerra Sino-Japonesa de 1937-1945). A partir de 1941 o Japão enfrentou os EUA e a Grã-Bretanha, e em 1945 a URSS.
■ A Guerra Européia ou Guerra de Hitler (1939-1945). Inicialmente (1939-1940) uma guerra da Alemanha contra a Polônia, Grã-Bretanha e França, envolvendo a Itália ao lado dos alemães (1940). A partir de1941, a Alemanha e Itália passaram a lutar também contra a URSS e os EUA.
Opôs o Eixo aos Aliados (a Grande Aliança ou Nações Unidas)
■ Eixo: principalmente Alemanha, Itália e Japão
■Aliados: principalmente EUA, URSS, Grã-Bretanha, França e China
Ideologicamente foi o confronto entre:
O fascismo e a aliança entre as democracias liberais (EUA, GB) e o comunismo (URSS)
Dois tipos de totalitarismo: o nazismo e o comunismo, na Guerra Germano-Soviética (1941-1945), o episódio mais violento e importante de toda a Segunda Guerra Mundial
2. Motivos da Segunda Guerra Mundial
2.1 Motivos gerais da guerra na Europa e na Ásia
(a) A insatisfação com a ordem internacional do pós-Primeira Guerra
A Alemanha e Itália queriam destruir o “sistema de Versalhes” na Europa
O Japão queria destruir o “sistema de Washington” na Ásia
A URSS queria recuperar os territórios que o Império Russo perdeu no Leste europeu em 1918
Instabilidade dos novos e antigos Estados da Europa Oriental: disputas territoriais e conflitos étnicos entre alemães, eslavos, húngaros e romenos
(b) A Grande Depressão Mundial
Os governos ultranacionalistas da Alemanha, Itália e Japão acreditavam que a única solução para a crise econômica era a conquista de novos territórios
As potências democráticas temiam que uma nova guerra agravasse os problemas do capitalismo, beneficiando a URSS e o movimento comunista internacional.
Grã-Bretanha, França e EUA adotaram uma postura cautelosa, moderada e tolerante em relação ao expansionismo inicial do Japão, da Itália e da Alemanha.
(c) O fracasso do sistema de segurança coletiva
Fraqueza da Liga das Nações
Isolacionismo e neutralidade dos EUA
Política anglo-francesa de apaziguamento: concessões aos países agressores para evitar uma guerra contra eles
2.2 Motivos específicos da guerra na Europa
(a) A política externa da Alemanha nazista
Destruir a ordem européia criada pelo Tratado de Versalhes e estabelecer a hegemonia da Alemanha na Europa, enfrentando a França, mas evitando, se possível, um confronto com a GB
Criar a Grande Alemanha, unificando a Alemanha e os países ou territórios habitados por alemães na Europa Centro-Oriental (Áustria, região dos Sudetos na Tchecoslováquia, o Corredor Polonês e Danzig na Polônia)
Obter o lebensraum (“espaço vital”) para os alemães no Leste europeu, conquistando a Polônia e, principalmente, a Ucrânia e a Rússia numa guerra de destruição da URSS
(b) A política de apaziguamento anglo-francesa
Antecedentes:
A França virou a principal potência militar da Europa em 1918-1933, mas temia o fortalecimento da Alemanha e uma guerra revanchista
Os franceses buscavam o apoio da GB para deter o rearmamento alemão, mas adotaram estratégia defensiva:
■ Idéia de vencer a Alemanha novamente como na Primeira Guerra Mundial, destruindo o exército invasor alemão em território francês num longo conflito de desgaste
■ Construção da Linha Maginot (1928-1939): rede de trincheiras e fortalezas na fronteira com a Alemanha
A GB considerava que a melhor maneira de impedir o revanchismo alemão era rever algumas cláusulas do Tratado de Versalhes e fazer concessões à Alemanha
Isso dificultou uma ação conjunta anglo-francesa contra o armamentismo de Hitler
A GB e França também temiam o fortalecimento da URSS e o comunismo internacional, dificultando o restabelecimento da Tríplice Entente
Resultado: GB e França toleraram o rearmamento alemão e algumas anexações territoriais exigidas por Hitler, acreditando que ele ficaria satisfeito e uma nova guerra européia seria evitada.
Principais defensores dessa política de negociação pacífica e compromisso: o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain (1937-1940) e o primeiro-ministro francês Édouard Daladier (1933-1934 e 1938-1940)
2.3 Motivos específicos da guerra na Ásia
(a) Antecedentes
A Questão Chinesa:
Desde o século XIX, a China tinha sua soberania limitada pelo imperialismo das potências ocidentais e do Japão. Conseqüências:
■ Crescimento do nacionalismo e da xenofobia entre os chineses
■ Enfraquecimento da autoridade do Estado chinês: Revolução Chinesa de 1911 (derrubada da monarquia) e guerra civil de 1916-1928, que deixou o país dividido politicamente entre líderes regionais, os “senhores da guerra”
■ Transformação da China no principal palco asiático das disputas imperialistas entre as potências
(b) O Japão e a China em 1918-1925
A fragmentação política da China favorecia a dominação estrangeira no país porque evitava o aparecimento de um poderoso Estado chinês
O imperialismo japonês era o que mais crescia na China desde o final do século XIX, tendência reforçada pela Primeira Guerra Mundial.
Conferência de Washington (1921-1922): Japão e potências ocidentais
■ Redução das forças navais na região
■ Respeito das possessões coloniais existentes
■ Reconhecimento da independência da China e o direito de todas as nações negociarem com ela em termos iguais.
(c) A ascensão dos nacionalistas na China (1925-1930)
Ascensão do general Jiang Jieshi (Chiang Kai-shek), líder do Guomindang (Partido Nacionalista ou KMT), começou a unificar a China a partir de suas bases no sul
■ Apoio da URSS e do Comintern
■ Inicialmente aliado ao Partido Comunista Chinês ou PCC, chefiado por Mao Zedong
1926-1928. Jiang Jieshi dominou grande parte do país e rompeu a aliança com os comunistas em 1927
1927-1936. Guerra civil entre o KMT e o PCC
Apesar da guerra civil, o governo do KMT transformou-se na principal autoridade da China, ameaçando o domínio japonês no país
Com a Grande Depressão, a idéia de consolidar e ampliar o poder do Japão na China passou a ser vista como fundamental pelos grupos ultranacionalistas japoneses.
(d) A retomada da política expansionista do Japão (1931)
A ascensão do KMT e de sua política anti-imperialista: ameaça aos interesses que poderosos grupos políticos e econômicos do Japão (militares e empresariado) tinham na China.
A reação desses grupos: pressionar o governo japonês a romper os acordos de Washington e adotar uma nova política mais agressiva em relação à China
1930-1932. Violenta crise política no Japão, com atentados contra as autoridades contrárias ao expansionismo.
Os militares ultranacionalistas assumiram o controle da política japonesa, subordinando o Parlamento e a monarquia (imperador Hirohito) aos seus interesses
■ Construção de uma grande força naval e a adoção de uma política de expansão sobre a China
■ Idéia da Esfera de Co-Prosperidade da Grande Ásia Oriental: todo o Extremo Oriente deveria ser integrado economicamente ao Japão por meio da cooperação regional e do colonialismo japonês. Implicava em expulsar as potências ocidentais da região
Dois primeiros-ministros destacaram-se na implantação desse projeto: o príncipe Konoe (1937-1941) e, principalmente, o general Tojo (1941-1944).
3. Antecedentes: a expansão japonesa, italiana e alemã em 1931-1939
1931-1932. O Japão conquista a Manchúria
Região no nordeste da China, transformada no Estado-satélite japonês do Manchukuo.
A Liga das Nações condenou o Japão e ele saiu dessa organização sem sofrer represália (1933)
1933. A Alemanha sai da Liga das Nações
Simultaneamente, Hitler iniciou o programa de rearmamento alemão.
1933-1935. Formação de uma coalizão anti-alemã
A França estabeleceu acordos com a Itália, URSS e países da Europa Oriental contra a Alemanha
Fracassou: divergências ideológicas, estratégia defensiva dos franceses, oposição da GB e ações imperialistas italianas
1935-1936. A Itália conquista a Abissínia (Etiópia)
A Liga das Nações condenou a Itália e ordenou sanções econômicas contra ela, mas a Grã-Bretanha e França não aderiram totalmente
A Itália saiu da Liga (1937)
1936. A Alemanha ocupa a zona desmilitarizada da Renânia (1936)
1936-1937. Formação da aliança entre Alemanha, Itália e Japão
1936. Criação do Eixo Roma-Berlim e do Pacto Anti-Comintern entre a Alemanha e o Japão
1937. A Itália aderiu ao Pacto Anti-Comintern
1936-1939. Intervenção militar italiana e alemã na Guerra Civil Espanhola
1937. O Japão invade a China
Início da Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945)
Nacionalistas e comunistas chineses suspenderam a guerra civil, buscando a cooperação para enfrentar o Japão
1937, novembro. “Conferência do Führer”. Reunião de Hitler com os generais alemães
Memorando Hossbach: decisão de conquistar a Europa Oriental para garantir o “espaço vital” para a Alemanha
1938, março. Anschluss. Alemanha invade e anexa a Áustria
Num plebiscito, a maioria dos austríacos concordou com a unificação
1938, agosto-setembro. Crise da Tchecoslováquia
Hitler exigiu o território tcheco dos Sudetos, habitado por alemães
A Tchecoslováquia, aliada da França e da URSS, recusou ceder o território e a Alemanha preparou-se para a guerra
1938, 29-30 setembro. Conferência de Munique
Reunião internacional entre Alemanha (Hitler), Grã-Bretanha (Chamberlain), França (Daladier) e Itália (Mussolini)
A Tchecoslováquia e a URSS não foram convidadas
GB e França cederam os Sudetos à Alemanha em troca do compromisso de Hitler de fazer consultas internacionais para resolver pacificamente futuras disputas
A Tchecoslováquia abandonada e sem ter como resistir, foi forçada a ceder os Sudetos (anexados em outubro de 1938)
Triunfo de Hitler e do nacionalismo alemão; apogeu do apaziguamento
1939, maio. Confronto Japão-URSS (Incidente Nomonhan)
Disputa pelo domínio da Mongólia, país socialista sob proteção da URSS
Violentos choques entre tropas soviéticas e japonesas na fronteira China-Mongólia
Japão derrotado:
■ Desistiu da expansão sobre o Norte da Ásia (Mongólia,Sibéria) e preparou-se para conquistar o Sudeste Asiático, região dominada pelas potências ocidentais
■ A URSS, preocupada com novos confrontos na região, adotou uma política de evitar se envolver em uma guerra na Europa
■ Sem conseguir uma aliança com a GB e a França, Stalin buscou um compromisso com a Alemanha nazista.
1939, março-agosto. A crise de 1939
Alemanha rompeu os acordos de Munique e, junto coma Itália, prosseguiu a expansão territorial na Europa Centro-Oriental
15-16 março. Com apoio de Hitler, a Eslováquia ficou independente (a secessão eslovaca) e a Alemanha invadiu a República Tcheca, que foi anexada ao Terceiro Reich
21 março. Hitler exigiu territórios da Polônia e ameaçou atacá-la.
22 março. A Alemanha anexou a cidade portuária de Memel, na Lituânia.
31 março. A Grã-Bretanha e a França prometeram defender a Polônia.
7 abril. A Itália anexou a Albânia
22 maio. “Pacto de Aço” entre Alemanha e Itália: o Pacto de Amizade e Ajuda Mútua em caso de guerra
23 agosto. Pacto de Não Agressão Germano-Soviético: Acordo Ribbentrop-Molotov
A Alemanha se comprometia em não atacar a URSS e vice-versa
Cláusula secreta: Alemanha e URSS dividiriam a Europa Oriental, inclusive a Polônia, entre os dois países
1939, 1 setembro. A Alemanha invade a Polônia
GB e França lançaram um ultimato exigindo a retirada alemã (2 setembro)
Hitler desprezou o ultimato; GB e França declararam guerra à Alemanha (3 setembro)
Início da Segunda Guerra Mundial na Europa
4. Fases da guerra
(a) A ofensiva da Alemanha e do Japão (1939-1942)
1939-1940. A Alemanha conquista a Polônia Ocidental, a Dinamarca e a Noruega
Início da blitzkrieg – a tática da “guerra-relâmpago”
A URSS ficou neutra no confronto entre a Alemanha, Grã-Bretanha e França, mas invadiu e anexou a Polônia Oriental, parte da Finlândia e da Romênia e os países bálticos
1940. A Alemanha conquista a França, Holanda e Bélgica
Divisão da França pelos alemães:
■ Norte e litoral atlântico ocupados pela Alemanha
■ Sul e maior parte do império colonial francês: virou a República de Vichy, sob a ditadura do Marechal Petáin (Estado satélite da Alemanha)
Parte do exército francês fugiu para a GB e continuou a lutar contra a Alemanha: os “Franceses Livres” chefiados pelo general Charles De Gaulle, controlando algumas colônias da França
Resistência da GB sob o primeiro-ministro Winston Churchill:
Derrota alemã na Batalha Aérea da Grã-Bretanha: GB salva da invasão
1940-1941. A Alemanha invade o Egito e conquista a Iugoslávia e a Grécia
Italianos tentam conquistar o Egito (domínio britânico) e a Grécia, mas fracassam.
Intervenção militar da Alemanha salva a Itália: os alemães enviam tropas para o Norte da África e conquistam os Bálcãs.
1941. Expansão da guerra: entrada da URSS e dos EUA
Junho. A Alemanha invade a URSS, mas não consegue derrotá-la
Dezembro. O Japão ataca os EUA (Pearl Harbor no Havaí e as Filipinas) e a GB (colônias no Sudeste Asiático e Hong Kong); a Alemanha declara guerra aos EUA
Início do assassinato em massa dos judeus pelos nazistas nos campos de extermínio estabelecidos na Europa Oriental: o Genocídio ou Holocausto
1942. O Japão conquista o Sudeste Asiático e a Alemanha avança no Sul da URSS e no Egito
(b) A contra-ofensiva dos Aliados (1942-1945)
1942-1943. Fim da expansão japonesa e alemã; colapso da Itália
O Japão é contido pelos EUA no Pacífico: Batalhas de Midway e Guadalcanal
A Alemanha é contida pela URSS no Sul da Rússia: Batalhas de Stalingrado e Kursk
A Alemanha é contida pela GB no Egito: Batalha de El-Alamein
EUA-GB expulsam o Eixo do Norte da África (1942) e invadem a Itália (1943)
■ Mussolini é preso pelo governo fascista e substituído pelo general Badoglio: rendição da Itália
■ A Alemanha invade a Itália, que fica dividida: norte dominado pelos alemães, sul pelos Aliados
■ Hitler liberta Mussolini, que assume o poder no Norte da Itália, sustentado pelos alemães
1943-1944. Os soviéticos expulsam os alemães da URSS e invadem a Europa Oriental
O Exército Vermelho conquista a Polônia, Romênia, Bulgária e Iugoslávia (auxiliando a guerrilha comunista de Tito)
1944. EUA e GB expulsam os alemães da França, Bélgica e Holanda
Expulsão iniciada com a invasão da Normandia, no Norte da França, pelos Aliados (6 de junho de 1944 – Dia-D)
1944-1945. EUA, GB e Austrália expulsam os japoneses do Pacífico Sul, Filipinas e Birmânia
1945. Derrota do Eixo
O Norte da Itália é tomado pelos Aliados e Mussolini é morto por italianos anti-fascistas (28 abril)
Hungria, Tchecoslováquia e Áustria são tomadas pela URSS
A Alemanha é invadida e destruída:
■ EUA-GB invadem o Oeste da Alemanha
■ URSS invade o Leste da Alemanha e toma Berlim: suicídio de Hitler (30 abril)
■ Rendição da Alemanha (7 maio)
Colapso do Japão:
■ O país é bombardeado pelos EUA com armas nucleares (Hiroshima e Nagasaki em agosto)
■ A URSS invade a Manchúria
■ Rendição japonesa (14-15 agosto)
5. Conseqüências da Segunda Guerra Mundial
Destruição e colapso da Europa Ocidental e do Japão
Na Europa, não apenas das potências derrotadas (Alemanha, Itália), mas também das vitoriosas (Grã-Bretanha, França)
Ocupação militar soviética da Europa Oriental
Presença e ocupação militar americana da Europa Ocidental e Japão
Alemanha dividida em 4 zonas de ocupação militar Aliada:
▪ Parte ocidental pelos EUA, GB e França
▪ Parte oriental pela URSS
Ascensão dos EUA e da URSS como as maiores potências militares do mundo (superpotências)
Com superioridade americana econômica e, até 1949, militar (monopólio atômico)
Estabelecimento de uma ordem internacional bipolar
Fim da antiga multipolaridade Europa-EUA-Japão
Expansão do socialismo pela Europa Oriental e Extremo Oriente (China, Coréia do Norte)
Formação de dois blocos econômicos: capitalista e socialista
Guerra Fria
Disputas pela hegemonia e influência internacional entre EUA e URSS
Resultou na dissolução da Grande Aliança contra o Eixo e em vários conflitos regionais
Criação da ONU
A Organização das Nações Unidas, que substituiu a antiga Liga das Nações
Descolonização da África e Ásia
Formação de novas nações soberanas na Ásia e África que, junto com a América Latina, constituíram o Terceiro Mundo